29 March 2013

puxar o autoclismo, parte 4

O despesismo público está cada vez maior e tem que se cortar no que não é essencial. A partir de agora proponho que os funcionários públicos trabalhem de graça, já que é dever deles terem uma atenção especial para a cidadania. Quanto aos investigadores e centros de investigação académica, já é tempo de desenvolverem os seus trabalhos de forma voluntária - nunca como hoje se viu tantos centros e tantos investigadores. Quanto à construção civil, especialmente sobre as obras públicas, há que tomar coragem e investirem, tornarem-se empreendedores (para quê inventar obras e acrescentos aos planos?). A educação e a promoção cultural? Porquê ficarem à espera da mama do estado e dos dinheiros públicos? E os deputados? Profissionais? A maior parte deles, não seriam mais uteis no privado, a trabalharem numa fábrica de exportação? E os assistentes especialistas de 16 anos (que se tornam ministros) e outros ainda mais especialistas séniores que controlam uma gestão de um país, com os seus 21 anos, acabados de terminarem a licenciatura (agora mais curta, com apenas três anos, para acelerar a entrada no mercado de trabalho fechado deles). Refiro-me a estes que terminaram os cursos (outros há, que sem o fazerem foram buscar o diploma na mesma).
E os vereadores que sempre trabalharam na apanha da azeitona e agora são especialistas em saúde? Ou os secretários de estado, antes advogados especialistas em direito de família, agora especialistas na agricultura ou em energias alternativas? 
Voltando ao despesismo público, chega de as câmaras e outros serviços pagarem a fornecedores externos, como frotas gigantescas de automóveis e casas de apoio espalhadas por toda uma cidade. E os apoios jurídicos? E os estudos de mercado? E as assessorias? E os conselheiros? E os assistentes? E os assistentes dos assistentes? E os especialistas em fechar a porta? E os outros que se especializam em abrir a mesma porta? E ainda o outro para desligar a luz? Luz que está sempre ligada, porque quem a liga, está de baixa e esta teria que ficar desligada até ele voltar ao trabalho, daqui a umas semanas. E o vendedor de batatas que não presta, porque as batatas não interessam para a refeição? E o outro vendedor de batatas que é o melhor do mundo, porque vende batatas e as batatas são mesmo o ingrediente mais valioso da refeição? E ainda mais estudos para decidir políticas? Vários, para se ter uma visão alargada da coisa e se tomarem as melhores decisões.
Já me esquecia dos artistas, prequiçosos, que nada fazem. Esses que não criam economia, não fazem educação, não promovem a cultura, não dinamizam uma cidade, não têm atitude política, que não são activos? E não fazem nada disto, porque fica bem dizer isso - os gestores (especialmene os fracos!) apontam sempre as pistolas aos mais frágeis, aos elos mais fracos. E outros acreditam... porque sim... porque o título é maior que a personagem; e se o título diz, é porque é verdade.
Óbviamente que estas decisões e visões são apenas para alguns ou para se colocar nas crónicas pessoais (porque fica sempre bem). E hoje, mais que nunca, toda a gente faz tudo. Toda a gente faz um filme, toda a gente é fotografo, toda a gente é dj, toda a gente fez (quando era novo) teatro. E assim continua o dia a dia dos pobres e ricos, uns a comer do queijo que é de todos, outros a comerem o pouco que resta da merda que outros deixaram, porque assim é que é - quem ostenta um título, envolto na ilusão do discurso correcto, lá vai levando a sua avante. E a ofender os outros, mas sem nunca ter dito que o fez. Hoje, é fácil ser, já que não é necessário sê-lo, mas simplesmente parecer que é e enganar os outros, escondendo-se por detrás de uma imagem bem cuidada.