28 February 2022

O martelo foi-se

O trabalho foi tomado, em alguns lugares, pelo funcionalismo público (na sua pior vertente) e muitos, são, já, meros zombies a abanar a cabeça de punho no ar; 
a famiglia substituiu a honestidade (quando não o promover da corrupção e falta de caráter) - "basta um para me sentir envergonhado", ouvi eu há 3 décadas; 
a competência desceu para números mínimos e a incompetência e o profissionalismo político surgiram.

É triste ver um partido que lutou, tanto, contra o fascismo em portugal, e mais tarde pela democracia e pelos direitos sociais e laborais, dar ares de apoio indirecto (pela recusa a condenar) um seguidismo abstracto (que não se percebe bem o quê) e um rancor anti-nato e EUA, tão básico que já ninguém (alem dos próprios) lhe dá valor.  
Acusam Todos de ignorantes e ovelhas, contudo, nos últimos dias, o copy-paste com cheiro a mofo, saiu para as ruas, cafés e redes sociais. 
Em massa, como deve ser!
E o criminoso continua a matar.
 
A capacidade de combater, na assembleia da república, a injustiça de algumas direitas mais conservadoras e penalizantes à qualidade de vida, faziam esquecer o conservadorismo social e ideológico, o sentimento anti-ocidente primário, a defesa cega de ditaduras totalitárias, as leituras enviesadas da história (nomeadamente quanto aos países em que o Grande Ideal foi testado - sempre numa escala de mau a desprezível) e a união anti-democrática de massa crítica (útil em tempo de guerra, totalmente desajustado e intolerável em tempo de paz).
 
É triste ver um partido, que nos habituámos a defender a saúde e a educação, aproximar-se de posições (em que Bolsonaro e Lukashenko são dos poucos que os acompanham) que nem a Turquia, Hungria ou, pasme-se, Boris ou Trump (incrível), o fizeram. Repetem os "mas há outros..". E isso não é o suficiente para justificar os "mas...".
Não deixa de ser extravagante insistir numa parada em que "são os únicos com o passo acertado" (todos os outros, Todos, são ignorantes, influenciáveis e manipuláveis), proferindo chavões de forma coordenada e copiada. 
Um dos expoentes máximos foi a insinuação - de poucos, felizmente - que tudo isto era uma tramoia da comunicação social ocidental, em que os ucranianos dançavam e cantavam, parando de o fazer e começando a chorar e a lamentar-se quando a câmara começava a filmar. Demasiado alucinado para tentar compreender. Ou então li mal; ou então escreveram mal.

É com muita tristeza que se assiste a isto, num estado liberal e livre - e pior, ter que assistir ao declínio de uma força tão necessária à democracia portuguesa (ainda por cima por ser um museu vivo histórico, único na europa, mesmo que dogmático) e por se ter tantos contatos e laços profissionais (e muitos, positivos e construtivos) e de amizade. especialmente na região do Alentejo.

Mais que tudo isto, é com tristeza que percebemos que se o Mal voltasse a esta experiência sociológica que é a União Europeia (eventualmente a experiência que mais se aproximou de um ideal humanista - sem nunca, de facto, o ter atingido em pleno - e que há pouco mais de uma década, aparenta estar em declínio ideológico e político) qual seria o lugar que muita gente tomaria, neste mar de hipóteses e suposições.
China, Coreia do Norte ou Venezuela são exemplos demasiado fortes para não deixar de aumentar o nosso lamento.
A vida continua.
Esperemos que a paz e a democracia e a liberdade prevaleçam. 
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Nota posterior: muitas leituras apressadas, muitas ações corrigidas, o "não é bem assim", a confusão da guerra, a tristeza da incerteza. Haja paz! Correções para reduzir eventuais injustiças. Fica o lamento.